domingo, 10 de outubro de 2010

SIMPLÍCIO DIAS DA SILVA

Homenagem ao grande homem da antiga Parnaíba.



Simplício Dias da Silva

Da igreja que construíste,
daquelas ruas e esquinas,
do teu túmulo, da praça,
da Casa Grande em ruínas
emana a tua memória,
heroicamente imortal

Na memória vêm uns trechos
deveras tendenciosos
que trazem a ouvir histórias
dos atos perniciosos
de um homem muito cruel,
de uma alma sem piedade.

Para nos narrar absurdos
teu nobre nome mancharam.
Mas que importam teus defeitos,
se os heroísmos ficaram?
Todos os homens são falhos.
Até os grandes heróis.

Nada disso nos importa.
Que mal, se foste severo?
O que vale realmente
é o teu enorme esmero
na luta por ideais
em prol da posteridade.

Da igreja que construíste,
daquelas ruas e esquinas,
do teu túmulo, da praça,
da Casa Grande em ruínas
a tua ordem de ação,
o teu brado firme ruge:

Liberdade, liberdade! -
sempre será o teu grito,
ecoando pelos séculos,
nos enchendo do infinito
que se esconde na palavra
liberdade. Liberdade!


Filipe Cavalcante
Santa Inês (MA), 25-26.VII.2009

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

INQUIETAÇÃO




Céus! O blog estava dormindo desde a primeira postagem!
Bem, para acordá-lo, tendes um soneto inédito.
Comecemos as atividades!


Inquietação

Andando nesta estrada, eu, vezes tenho sido

indagado por mim, minha própria consciência,

se a caminhada aqui devo fazer ou vence-a

outra vontade – embora em calma eu vá vestido.

Vez muita acho que quero o outro caminho ou crido

tenho que prosseguir é melhor conveniência.

Como serei feliz na decisão? Eu pense-a

pra que não fique, a alma e o corpo, assim tolhido.

O caminho em que vou me dói, mas é seguro;

no outro vai o prazer, porém não vai o apuro.

Nesse, tão livre irei; neste o amor meu se esfuma.

No outro caminho corre a Poesia em mim, são

os dias todos festa. Aqui o coração

explode de paixões e eu não vivo nenhuma.


Filipe Cavalcante

Parnaíba (PI), 26.05.2010

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vou-me embora pra Pasárgada

Nada melhor pra inaugurar o blog de Pasárgada que o imortal poema do São João Batista do Modernismo, Manuel Bandeira.


Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar-
Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada